[Por Márcia R. Carvalho]
E as bets, hein? O que você já sabe sobre elas, além das CPIs, influenciadores(as) e notícias recortadas para viralizar e garantir cliques nas plataformas e redes sociais?
Confesso que é um assunto que me preocupa. Na época dos bingos, por exemplo, conheci algumas pessoas que se deram muito mal. Isso sem falar nos casos mais recentes envolvendo os famosos “tigrinhos” e outras armadilhas disfarçadas de oportunidade.
A verdade é que, quando falamos de bets, ainda há muita desinformação. Mas elas estão por toda parte — no futebol, nas redes sociais, nas promessas de lucro rápido. São as chamadas casas de apostas, plataformas digitais onde se pode apostar dinheiro em jogos, esportes ou até eventos do cotidiano. E, sim, muitas operam legalmente no Brasil. Outras, não.
Desde 2023, o governo brasileiro passou a regulamentar esse setor. Para funcionar legalmente, uma bet precisa de licença do Ministério da Fazenda, ter sede no país, seguir regras de segurança e criar políticas de prevenção ao vício. As que não cumprem esses critérios — muitas vezes hospedadas no exterior — são ilegais, mesmo que atraiam milhões de brasileiros.
A diferença parece técnica, mas não é. Nas casas não autorizadas, o risco de golpes, fraude ou desaparecimento do dinheiro é real. Já nas autorizadas, existe algum tipo de proteção — embora ela nem sempre seja suficiente. A verdade é que, legal ou ilegal, o vício em apostas já é uma realidade entre nós. Segundo a Organização Mundial da Saúde, cerca de 1,5% da população brasileira sofre de ludopatia, um transtorno ligado ao vício em jogos de azar, reconhecido como doença.
Mais do que um jogo, as bets viraram uma prática diária para milhões. Dados do Banco Central apontam que entre R$ 20 e R$ 30 bilhões circulam mensalmente em apostas online no Brasil. Isso não é só economia: é também comportamento. É o salário que some, o tempo que escapa, a ansiedade que cresce.
Apesar da regulamentação, em que ponto está a discussão sobre os efeitos sociais desse sistema? A lei exige medidas para proteger os consumidores, incluindo ações de prevenção e tratamento para a ludopatia. Mas, na prática, ainda é pouco frente ao bombardeio publicitário que estimula o jogo como sinônimo de sucesso.
Outro grande ponto de atenção vai além da legalidade. Mesmo com a proibição para menores de 18 anos, o apelo dessas plataformas é enorme entre crianças e adolescentes, com joguinhos coloridos e promessas de recompensas rápidas. A fiscalização desse acesso ainda é um desafio, especialmente em um mundo digital onde a vigilância é limitada e a publicidade corre solta.
O alerta aqui não é contra as bets em si, mas sim sobre a falta de preparo da nossa sociedade para lidar com esse fenômeno. A pergunta que fica é: sabemos no que estamos apostando? Enquanto a regulamentação serve para arrecadar, a sociedade ainda carece de informação. Falta debate público, falta educação financeira e falta uma política nacional de prevenção ao vício em jogos. E, principalmente, falta perceber que o verdadeiro perigo não está só em apostar — mas em não saber por que se aposta.

(imagem: freepik.com)